Um mundo sem plástico e sem educação

Fiz essa montagem simples meio que no PaintBrush, para ilustrar um ponto de vista meu (portanto, não é uma verdade inconteste, mas uma opinião) a respeito dessa “malhação diária” do grande vilão do planeta, o plástico.

Nestes 17 anos de consultoria, uma das coisas mais corriqueiras que vi na chamada arte de tapar o sol com a peneira são empresas que mascaram sua ineficiência operacional de inúmeras formas: compram máquinas novas (ao invés de potencializar o OEE das atuais), trocam de fornecedores (sem nenhum trabalho investigativo apurado), trocam de colaboradores como quem troca a roupa íntima (ao invés de capacitá-los) e mudam até as métricas de eficiência por números mais brandos e fáceis de se atingir.

O próprio governo já fez essa engenharia muitas vezes e deu o nome de “contabilidade criativa”. Se não vamos atingir um resultado, mudemos a base de cálculo, oras.

Eu vejo a mesma filosofia no tema do plástico. Ao invés de trabalharmos as questões realmente importantes, tais como a educação do consumidor (veja que o fenômeno de jogar lixo no chão deu-se num mundo com menos plástico nos anos 60, ao som de Ritchie Havens e nos anos 2019, ao som de Ivete Sangalo), um sistema de coleta seletiva eficaz, logística reversa e economia circular – preferimos banir o plástico em uma série de aplicações, por materiais que se degradem em um tempo menor.

Não digo que esta iniciativa não seja válida. Só coloco em pauta que o fenômeno é o mesmo. É mais fácil e cômodo trocar o plástico pelo papel do que dedicar-se a ensinar os amantes do Rock em ambos os festivais de que não se deve jogar o lixo no gramado. Isso me lembra muito uma piada (apesar de o assunto ser triste) do homem que encontra a esposa com o amante no sofá e, revoltado, joga o sofá fora.

O plástico não é nosso inimigo. Graças a ele, pude passar de forma confortável e segura as primeiras semanas de vida (nasci com pneumonia) numa incubadora de acrílico, tomando medicamento conduzido por uma bolsa plástica de soro ou por injeções, também de plástico. Eu e tantas milhares de crianças em todo o mundo.

Já li dezenas de estudos acerca do papel vital do plástico no combate ao desperdício de alimentos e até sua relevância em alimentar os famintos em locais remotos do Planeta. E é graças ao Plástico que o ser humano tem conseguido desenvolver tecnologia para colonizar outro Planeta algum dia (muito em breve, pelo que parece), deixando para trás a sua pilha imensurável e secular de lixo – afinal é mais fácil mudar daqui do que enfrentar a árdua tarefa de educar as novas gerações para que não jogue seu lixo – quer seja ele plástico, papel, metal, vidro ou biomaterial – no gramado.

Cinquenta anos se passaram desde WoodStock e a mais recente edição do Rock’n Rio. Façamos um esforço imaginativo de um show de rock cinquenta anos à frente. Possivelmente será num espaço aberto, apinhado de gente. Apesar de muita banda nova e ruim, ainda ouviremos alguns clássicos atemporais e Keith Richards estará vivo e solando em alguma apresentação.

No fim do concerto, teremos uma montanha de embalagens no gramado. Talvez, confeccionadas por materiais que sequer foram inventados. Mas o lixo estará presente, jogado no gramado.

E, com sorte, com o avanço e a popularização da realidade aumentada, poderemos enxergar todo material descartado como lindas flores enfeitando a paisagem em mais um show memorável.

A roupa nova do imperador é linda e só os inteligentes podem vê-la? Não, de forma alguma. Ele está nu e dando mosh na galera.

Até a próxima,

Aislan

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