É possível “virtualizar”​ uma Drupa?

Após uma série de adiamentos e uma certa expectativa pelo pior por parte do mercado, a Drupa – a mais icônica e tradicional feira gráfica do mundo – foi abortada em razão da grave pandemia covid19. A nova data prevista será entre os dias 28 de maio e 7 de junho de 2024, em Düsseldorf, Alemanha.

Após uma série de adiamentos e uma certa expectativa pelo pior por parte do mercado, a Drupa – a mais icônica e tradicional feira gráfica do mundo – foi abortada em razão da grave pandemia covid19. A nova data prevista será entre os dias 28 de maio e 7 de junho de 2024, em Düsseldorf, Alemanha.

Evidentemente que, com certa brevidade desde o primeiro adiamento, a organização do evento empreendeu esforços hercúleos na preparação de um “plano B”, com a virtualização da feira (um showroom digital). A virtual.drupa será online, dos dias 20 a 23 de abril de 2021.

Perfis das empresas expositoras, vídeos dos produtos com descrições detalhadas, sessões interativas de vídeo e chat e tudo o que se possa agregar para diminuir o hiato da ausência e do contato humano direto nos imensos pavilhões e áreas sociais do evento.

Toda plataforma ou solução possui vantagens e desvantagens. Eventos virtuais são uma panaceia universal? Não. São de todo ruins? Também não. Penso que são complementares.

Por ora, nenhuma tecnologia – nem o mais moderno holograma – consegue substituir o networking real presencial, uma vez que somos seres sociais (nem sempre sociáveis, é verdade). Para diminuir esse vazio, os ambientes virtuais tentam recriar áreas sociais como lounges e até, vejam só, “praças de alimentação”.

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Todavia, estar imerso num espaço virtual – quer seja pelo computador ou por um dispositivo móvel – é uma batalha em dobro sobre o prisma do expositor: além de digladiar com outros competidores por uma fração da atenção do visitante, deve vencer inúmeras outras fontes de distração como as mensagens de texto, voz e e-mail que brotam a cada minuto.

Acredito que o maior desafio para feiras virtuais no setor gráfico seja a falta de experiência do visitante médio em lidar com estas tecnologias.

A maioria se viu enfronhado em eventos e webinars pela primeira vez durante a pandemia – mas a cultura e o hábito levam mais tempo para se estabelecer. E a faixa etária média dos empresários que visitam os eventos, de alguma forma, pode “jogar contra”. Não estamos falando de jovens que nasceram no Second LifeThe Sims e outros games onde controlar um avatar e interagir é absolutamente intuitivo.

Estamos falando de um público majoritariamente mais velho, descobrindo a tecnologia e os recursos avançados (que poderiam potencializar a sua experiência como visitante) pela primeira vez, e com tempo e atenção escassos para longos passeios virtuais.

Não podemos deixar de destacar aspectos interessantes e positivos das feiras virtuais. O custo-benefício talvez seja o maior deles – afinal, uma feira do tamanho de uma Drupa custa muito caro.  E o custo se reflete no investimento por metro quadrado ao expositor ou mesmo no custo dos tickets para os visitantes.

Eventos virtuais são bem mais baratos quando comparados aos seus pares do mundo físico. E podem, desde que haja uma base sólida de contatos amparado por plataformas poderosas de automação de marketing, atingir pessoas em locais mais distantes.

Afinal, ao visitante cabe não apenas o custo do ingresso, mas passagens e estadia (isto vale também ao staff do expositor) – algo bastante diferente num evento digital. Não há limite de participantes e nem geográficos.

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Aos dirigentes de marketing, sempre pesa o resultado instantâneo proporcionado por ferramentas virtuais – com métricas como número de visitantes, origem, tempo de permanência no estande, grau de interesse medido em cliques por produto etc.; algo que as feiras presenciais também trazem, com a adoção de tecnologias como crachás com RFID (geolocalização), QR Code (controle de acesso), beacons (sensores de presença e movimento) e canetas coletoras, por exemplo. De uma certa forma, todos tem maneiras mais ou menos ágeis e precisas de mensurar o sucesso do evento.

A diferença maior, geralmente a favor dos eventos online, tem sido o período pós-evento. Depois que a feira passa, dada a quantidade de tarefas acumuladas, os retornos podem demorar e os leads podem acabar “esfriando”. Nos meios online, uma vez que os visitantes já estão conectados, é muito mais fácil e conveniente enviar um questionário de satisfação ou interesse com maior probabilidade de retorno.

A questão que se apresenta é: – que tipos de coisas ou ações são particulares dos eventos “gráficos”? Existe tecnologia para suplantar estas particularidades hoje?

Um exemplo trivial diz respeito às amostras. Quem vai à Drupa, volta geralmente com uma mala cheia de impressos – oriundos de máquinas, sistemas e tecnologias distintas. As empresas têm tentado suprir essa lacuna com demonstrações ao vivo por internet das máquinas e o envio antecipado de arquivos dos trabalhos dos clientes – que são impressos e enviados por correio. Por melhor que seja a logística, falando especificamente de feiras, essa premência do “ver agora” é, de certo qual modo, frustrada.

O visitante também vai à Drupa para ver as demonstrações ao vivo dos equipamentos. Embora os fabricantes de máquinas e equipamentos tenham reforçado seus demo centers durante o ano e investido em tecnologias de captura de imagens HD para transmissões online – é apenas no ambiente ferial que se pode, em um mesmo espaço de tempo, ter contato direto com um sortimento de máquinas dessa amplitude. Este será um dos mais espinhosos desafios da organizadora do evento.

É possível que, num futuro não tão distante, a popularização de tecnologias vestíveis como óculos inteligentes possa trazer uma maior proximidade do visitante em ambientes virtuais, mas isso ainda custa muito.

A virtual.drupa, neste instante, é um “tapa-buracos” para manter o hype dos que esperavam, como eu, ansiosamente pelo evento. Não duvidamos da competência dos organizadores em apresentar algo bem produzido. Mas a sensação neste instante é ter comprado ingressos para o show do Johnny Rivers e encontrar o Latino no palco.

Sobre o futuro de feiras como a Drupa? A cada dia, estamos mais convictos de que serão feiras menores, regionais e de nicho, num modelo “phygital” – parte da experiência será presencial e outra parte, tão importante quanto, será online.


Publicado por:

Aislan Baer Fundador e CEO da ProjetoPack & Associados; Co-fundador da Inovagraf; Especialista em impressão e embalagens

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