A Pré-Impressão não morrerá

Acreditem quando afirmo que a pré-impressão é o setor do inteiro ciclo produtivo da comunicação gráfica que mais sofreu transformações ao longo das últimas cinco décadas. Transformações tão radicais que podem induzir a pensar que seu futuro é a extinção, como alguém já sentenciou!

Não é nada difícil para as gerações que atuavam na área já nas décadas de 60 e 70 lembrar como era o sistema planetário gráfico, ao centro o cliente, evidente, e, em volta, o mundo da impressão, do fotolito, hoje pré-impressão, do acabamento, hoje pós-impressão, e da foto composição, hoje extinta. Imagine como era fácil coordenar todos e tudo para se ter o produto final!

Entrega para o fotolito, leva filmes e provas para a gráficas, leva tudo para a empresa de acabamento e reze para não faltar algo no recebimento final.
Lembro muito bem, eu estava lá, uma simples página de revista em 4 cores com 3 imagens e duas aplicações de fundos lisos demandava pelo menos 5 dias de trabalho contando com as idas e vindas das correções e aprovações de provas por parte do cliente. Pela complexidade dos processos, a empresa de fotolito era maior que gráfica, não dificilmente superava os cem funcionários. O recorde, se bem me lembro, foram quase 700 considerando 3 diversas plantas.


O universo da pré-impressão era povoado de gigantes de aço, como alguém definiu, equipamentos como máquinas fotográficas, ampliadores, prensas de contato e de cópia, prelos de provas, mesas de montagem e retoque operados por verdadeiros artistas especialistas com tarefas produtivas impensáveis hoje.


Pela dificuldade da comunicação e informação, não existia a internet, lembrem, passou despercebido aos “fotoliteiros” o lançamento por parte da alemã Hell do primeiro scanner Cromagraph em 4 cores! A chegada dos scanners eletrônicos nos anos 80 foi o primeiro e fundamental indicio da duradoura revolução tecnológica prestes a acontecer. Poucos ou muito poucos acreditaram que algo pudesse mudar por causa do altíssimo custo dos equipamentos. É logico que a proliferação dos scanners foi inevitável tanto pelo aumento de produtividade como pela possibilidade de redução do orgânico da empresa e o ganho de produtividade. Primeiras vítimas, os fotógrafos seguidos de perto pelos retocadores, as elites do fotolito.


Em uma outra dimensão paralela à nossa e desconhecida até então, aconteceu algo que transformaria profundamente a indústria gráfica.

1980 – É publicada a especificação da Ethernet

1981 – IBM PC entra no mercado como computador pessoal

1982 – É fundada a Adobe, a Sony lança o primeiro monitor Triniton

1983 – Apple Lisa introduz uma interface gráfica e o mouse

1984 – Apple lança o Macintosh e Adobe apresenta o PostScript

1985 – Steve Jobs investe na Adobe para desenvolver um controlador PostScript para a Apple LaserWriter. De nada adiantaria sem um terceiro partner, Aldus uma pequena empresa que criou um aplicativo para o sistema, o Page Maker. Linotype fornece as fontes Helvetiva e Times e desenvolve a primeira imagesetter, Linotronic 300.

Não demorou muito para a nova e revolucionária tecnologia encontrar o terreno fértil no mercado gráfico permitindo o surgimento e proliferação dos birôs de serviços que, se de um lado revolucionaram, graças ao PostScript, os processos produtivos, contribuíram, do outro, para a morte de tantas empresas que, agarrados às raízes do famoso pensamento de que “isso não vai funcionar e não tem futuro”, não investiram, tornando-se improdutivos de tal maneira que não tiveram muitas escolhas a não ser fechar as portas.

Lembro muito bem de uma declaração dada por um diretor de uma empresa que não mais existe “ Muitos fotolitos faliram porque não perceberam as mudanças tecnológicas e não tinham alternativas para oferecer ao cliente”.
Sentença ainda validíssima para os dia de hoje, não acham?

Foram anos de mudanças radicais nos processos e principalmente no conhecimento operativo.
Adeus montadores, “contateiros”, “prelistas” e copiadores.

Tenho certeza de que poucos tem a exata ideia de quantos, lamentavelmente, ficaram desempregados por não aprimorar seu conhecimento.

Foi necessário treinar novos operadores no uso de computadores e softwares, não sempre fácil, nas novas linguagens, PostScript, PostScript Encapsulado, arquivos de Corel, de PageMaker, de QuarkXpress, de PhotoShop, TIFF mais tarde Jpeg e o salvador PDF. Como foi difícil aprender a “fechar arquivos” para evitar os conhecidos “paus de fontes” e imagens em baixa e em RGB.

Foram tempos difíceis, mas importantíssimos para entender as tecnologias vindouras. De fato, pouco durou a tranquilidade porque na Drupa de 90 apareceu o CtP, Computer to Plate, que eliminando a necessidade do filme prospectava um aumento de produtividade, redução dos custos pelo fim das imagesetters, processadoras, químicos e, novamente, funcionários.

A pré-impressão em mais nada lembrava o antigo fotolito, nem fisicamente, nem geograficamente, nem tecnologicamente e menos ainda como conhecimento.
Bastavam, basicamente, um scanner, um computador, softwares, rede e sistema de prova digital para se ter um departamento de pré-impressão.

Não obstante as mudanças de tecnologia, ferramentas e processos, o fluxo de trabalho da pré-impressão continuava isolado do resto da empresa e não havia comunicação se não verbal e escrita com as áreas de impressão, pós-impressão e administração.

Eis, porém que uma nova e disruptiva tecnologia aparece no nosso horizonte, a fotografia digital que em poucos anos, a despeito dos incrédulos, suplantou a maquinas fotográfica com filme e, e claro, mais uma vez refletiu na pré-impressão. Basta com os monstruosos gigantes de aço, como eram definidos os scanners, e com os operadores, por consequência, a imagem já chega prontinha! Graças à experiência adquirida até então, não foi muito difícil conhecer e gerir as variáveis técnicas das imagens digitais.

A história não acaba aqui.

Enquanto o mercado como um todo tentava absorver as tecnologias, reestruturar-se, preparar os operados, organizar o fluxo de trabalho como um todo e tentar sonhar, finalmente, em lucros, poucos perceberam como uma outra tecnologia, tão revolucionária quanto a fotografia digital, iria modificar incisivamente o mercado e, claro, a pré-impressão. Era 1990 quando a Xerox apresentou a DocuTech 135, um “dispositivo”, como foi definido na época, que, combinando três diferentes tecnologias – escaneamento em alta resolução, formação digital da imagem via laser e a xerografia, permitiria substituir maquinas, processos e pessoal.

Nascia a impressão digital que não teve vida fácil no começo. Atingir a qualidade do offset era como achar o pote no fim do arco íris e constituía a barreira protetiva e defensiva dos céticos. Na Drupa do ano passado, porém, todos tiveram a oportunidade de constatar que o pote com ouro existia de verdade. Horizontes até então intocados e sequer imaginados se abriram mostrando um universo de novas oportunidades em diversos mercados que necessitavam desesperadamente de curtas e curtíssimas tiragens, personalizações e customizações, diversidade de substratos e formatos.

Me permito dizer que isso abriu as portas da indústria Gráfica para a integração com o mercado de multimídias em desenvolvimento.

A pré-impressão teve de se adaptar, mais uma vez, às novas exigências do mercado perdendo obrigatoriamente o isolacionismo. Torna-se o centro nevrálgico da empresa, a porta de entrada dos trabalhos, do controle, da preparação dos arquivos, da comunicação com os clientes das provas físicas e remotas, softproof, do envio dos arquivos digitais para a impressão interna alimentando os sistema MIS com as informações necessárias.

Uma campanha publicitária atual, podendo prever outros processos de impressão ou acabamento, necessita de conhecimento até então restritos a uma área. Não se trata da necessidade de aumentar a quantidade de equipamentos ou funcionários, mas de aumentar a qualidade dos operadores para atender as mais diversas necessidades do cliente.

Compare o conhecimento de um operador do passado com um atual, especializado em pré-impressão e ter de preparar arquivos para um catalogo, um livro, uma revista, uma embalagem em rígido ou flexível, para indústria cerâmica e têxtil etc.

Quanto conhecimento, onde busca-lo, a que preço e em quanto tempo são respostas que deixo aos empresários.

A pré-impressão não morrerá, acreditem. Mesmo que os equipamentos modernos sejam equipados com sistemas de Inteligência Artificial com processo de autoaprendizagem e softwares mais automáticos, nunca poderão dispensar um operador inteligente e, sobretudo, nunca entenderão o que significa azul, vermelho, amarelo e preto.

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