A decisão de implantar o gerenciamento de cor tem de vir de cima

Os primeiros sistemas de gerenciamento de cor foram implantados no Brasil há mais de uma década. Por que parte do mercado ainda desconhece esse processo?

Sidney Silveira — Durante muito tempo foi vendida aos gráficos uma ideia que não era correta em função do desconhecimento do mercado do que era o processo, incluindo os próprios fornecedores. Pensava-se em gerenciamento de cor por partes. Só o monitor, só a impressora offset, partes isoladas. Mas a gestão da cor começa no monitor e vai até a impressora, envolve um conjunto de ações. Hoje o segmento gráfico começa a enxergar o processo dessa forma. Além disso, há mais ferramentas disponíveis, com preços mais acessíveis, viabilizando o gerenciamento da cor. Os cases de sucesso estão aparecendo aqui e ali, mostrando os benefícios práticos do gerenciamento da cor, não só com relação à qualidade e repetitibilidade da impressão, mas sim redução do tempo de set up e economia de insumos como a tinta. O gráfico está percebendo que só será mais produtivo se for mais eficiente e o gerenciamento de cor está deixando de ser um bicho de sete cabeças. Porém, temos muito que evoluir. Falando como diretor da Starlaser, não percorremos nem 5% do mercado.

Quando a gráfica começa a pensar em gerenciamento de cor?

SS – Tirando as gráficas de ponta, que tradicionalmente saem na frente em termos de tecnologia, a gráfica corre atrás disso quando os problemas aparecem, como no momento em que um cliente importante devolve um material porque a cor está fora das especificações, ou quando sentem-se pressionadas por clientes que estão exigindo o cumprimento de padrões mundiais. O gráfico fica entre perder um GRANDE CLIENTE , por exemplo, e investir 70, 100, 200 mil reais em um sistema de gerenciamento de cor. O sistema ainda é visto como um item caro. Só que uma gráfica com impressão rotativa consegue recuperar esse investimento em um mês e meio. Ela imprime melhor, gasta menos papel e outros materiais, polui menos o meio ambiente.

A nova geração de empresários gráficos vem com uma cabeça mais aberta, compreende melhor a função do gerenciamento de cor.

O gráfico da velha guarda tem dificuldade de investir em sistemas que não deem resultados diretos?

SS – É, ele não investe porque é intangível. Eu brinco aqui com o pessoal. Dá vontade de comprar uma geladeira, colocar o software lá dentro e então entregar para o cliente. Procuramos mostrar para as gráficas que às vezes nem é preciso adquiri mais uma máquina impressora, que a agilidade e a redução no set up proporcionadas pelo controle do processo pode permitir que ele tenha a mesma capacidade produtiva com um número menor de equipamentos.

Outro mito é que gerenciamento de cor é só para gráfica grande. Atualmente existem soluções para todos os bolsos, para gráficas pequenas, médias e grandes. Digo que não demora muito e o gerenciamento de cor será como curso de pós-graduação: você faz para continuar no mercado de trabalho e não mais como um diferencial no currículo.

O gerenciamento de cor será como curso de pós-graduação: você faz para continuar no mercado de trabalho e não mais como um diferencial no currículo.

Vamos imaginar que eu tenho uma gráfica e quero implantar o gerenciamento de cor. Por onde começar?

SS – Há duas formas de começar. A primeira é padronizar a impressão, e junto com isso vem o treinamento. Não vendemos produtos sem treinar a equipe da gráfica para que se torne autossuficiente. Os funcionários são treinados in loco, aprendendo desde informações básicas sobre teoria da cor, até a operação do software. Você vai precisar de um densitômetro, de um espectrofotômetro e do programa que faz o controle do processo na pré-impressão, gerenciando variáveis como ganho de ponto e trapping. Isso pensando em impressão offset.

Você pode preferir começar pelas provas, padronizando-as para que sigam os padrões internacionais da norma ISO 12647(offset) e fazendo que com se tornem uma referência real. Você vai precisar de uma impressora digital jato de tinta(profissional) com pelo menos oito cores, um espectrofotômetro e o software para gerenciamento das provas. A gráfica terá de ter, também, um monitor profissional, que permita ajustes finos, possibilitando ao operador visualizar na tela o mesmo que será reproduzido pelo sistema de prova.

Vencida essa primeira etapa, a gráfica deseja aprimorar o controle do seu processo produtivo. Qual é o passo seguinte?

SS – Ela pode trabalhar com dois softwares que atuam em frentes diferentes: na otimização do uso da tinta e na automação do ajuste dos arquivos. O primeiro programa permite a redução da carga de tinta usando algoritmos que compensam o preto através do CMY. Essa compensação torna a impressão mais nítida, mais limpa, pois usa uma carga menor de tinta. É possível reduzir em até 30% a carga de tinta sem mudar o tom da cor. O software controla isso no momento em que o arquivo está sendo ripado. Mas é preciso estar com a manutenção da impressora offset em dia.

O outro software, que também roda quando o arquivo é ripado, faz a separação e os ajustes nos arquivos com relação à cor. Se você der o mesmo arquivo para três operadores diferentes, cada um vai fechar o arquivo de uma forma. Esse software equilibra a cor em arquivos que compõe um mesmo produto. Através de um único comando, o operador pode mudar os parâmetros de cor do arquivo de um trabalho que seria impresso em offset e que agora será produzido em flexo. O programa pode seguir padrões prévios ou estabelecidos pela gráfica. Pensando em parques gráficos híbridos, é esse software que vai permitir que um mesmo arquivo seja impresso em offset e digital com resultados semelhantes.

Cumprindo todas essas etapas, o gráfico terá segurança de que o que ele vê no monitor é exatamente o que será impresso. Erros podem acontecer, mas você diminuirá as variáveis.

Quanto tempo demora todo esse processo?

SS – 15 dias, se estivermos falando em uma única impressora, trabalhando com o mesmo papel e com a mesma tinta. Sim, porque não há padronização se a cada dia a gráfica trabalha com fornecedores e insumos diferentes, ou não controlados

Mas para a implantação do gerenciamento de cor dar certo o apoio do dono, do gestor da gráfica, é imprescindível. A decisão tem de vir de cima para baixo.

Por quê?

SS – Porque se a decisão não for firme o processo pode ser prejudicado por um ou outro funcionário que não quer mudanças em sua rotina. Desculpas como ‘estava com pressa e não medi a densidade’ são comuns e comprometem o cronograma de implantação, assim como não medir a solução de molha, trabalhar cada dia com uma tinta, deixar o espectrofotômetro guardado na sala do diretor e tantas outras práticas. O controle do processo produtivo é fundamental. É preciso trabalhar com fornecedores confiáveis e controlar a qualidade das matérias-primas que entram na gráfica. Isso tanto para offset, quanto para flexo, roto ou digital.

E depois que está tudo funcionando corretamente é preciso continuar monitorando para que o processo se mantenha alinhado.

Quando os resultados começam a aparecer no caixa da gráfica?

SS – O ganho em produtividade vai depender da gráfica e de como era o seu processo produtivo antes do gerenciamento de cor. Indicativos vêm da comparação, por exemplo, do número de folhas usadas no ajuste da máquina antes e depois, que tende a cair, do tempo de set up, que também diminui. Essa conta pode ser feita de outra forma. O controle do processo e o gerenciamento de cor podem, por exemplo, evitar que um trabalho de R$ 500 mil seja devolvido, queimando a gráfica com aquele cliente que representa nada menos que 60% do seu faturamento. Costumo exemplificar para ficar bem claro, imagine um motorita de taxi que a cada passageiro que pega o carro precisa esquentar ½ hora. Assim que a maioria das gráficas trabalham. A cada trablaho impresso o tempo de set up muitas vezes é maior que o tempo de impressão. Então eu pergunto: a solução que vendemos é cara ou a visão do empresário é limitada? Gasta-se milhões com equipamentos e muito pouco em softwares , treinamento e consultoria. Permitimos que uma pessoa mal preparada “pilote “ uma flexo de 5milhoes e não damos nossa BMW de 500mil na mao de qq um. Isso sim é um inversão de valores.

Qual o comprometimento do fabricante do software nesse processo.?

O fabricante da solução dá todo suporte no desenvolvimento e atualização do produto criando novas aplicações , inclusive criando planilhas de R.O.I. onde fica evidente o resultado do investimento. Uma coisa que eles pecam é o credenciamento de qq empresa para revenderem seus produtos criando competição desnecessária, gerando margens baixas , desmotivação e consequentemente um pós venda sofrível pelo desinteresse e falta de M.O qualificada. O Brasil e diria até a AL são mercado atípicos, pois são carentes de formação de M.O, volume baixos, conhecimento técnico do gestor limitado( ex:sempre trabalhei assim) falta de um politica de treinamento. Isso deve-se a razões culturais, estrutura de pessoal enxuta, achar que já sabemos tudo, não valorizamos treinamento / consultoria e o momento econômico que passamos. Nesse caso acredito que a culpa seja de todos empresário, funcionário e fabricante. Está mais do que na hora de criarmos empresas fortes com corpo técnico preparado evitando de aprender nas instalações dos clientes e dando condições as empresas produzirem mais e melhor num ambiente extremamente competitivo.

Como bem sabemos quantidade e preço nunca foi sinômino de qualidade oe de bons serviços.

Compartilhe isso:

Projeto Pack em Revista

Arquivo

Assine o Infopack no LinkedIn